GDF estuda pacote de incentivos para atrair a holandesa Next Generation Aircraft, que negocia com quatro países a instalação de um complexo industrial para produzir um modelo de jato regional. Além do Brasil, Argentina, África do Sul e Turquia estão no páreo
Ricardo Taffner
Publicação: 13/08/2010 09:33
A TAM foi uma das empresas que operaram com o Fokker no Brasil |
A acanhada indústria brasiliense pode receber um reforço de peso para turbinar a economia local. O Governo do Distrito Federal entrou na briga para trazer a fábrica de aeronaves da holandesa Next Generation Aircraft. Quatro países estão na lista de interessados: Argentina, África do Sul, Brasil e Turquia. Na disputa interna, Minas Gerais e Goiás manifestaram interesse. O governador do DF, Rogério Rosso, participou no início do mês, em Amsterdã, de uma reunião com os executivos da empresa e trouxe na bagagem uma carta de intenções assinada pelo presidente da companhia, Jaap Jacobson, para a instalação de um complexo industrial na cidade. Com investimentos de R$ 1,6 bilhão, o negócio pode movimentar R$ 4 bilhões por ano e gerar 10 mil empregos diretos.
O objetivo é recriar o Fokker 100, do grupo Rekkof. A aeronave, batizada como F100-NG, teve a aerodinâmica modernizada e recebeu novos motores e equipamentos eletrônicos. A empresa trabalha no novo modelo desde o fim de 2008 e recebeu, neste ano, um crédito de 20 milhões de euros (o equivalente a R$ 45 milhões) do governo holandês para dar andamento ao projeto. A expectativa da NG Aircraft é fazer o primeiro avião voar em 1º de outubro de 2015. Em 2017, será lançado o F70-NG, de menor porte. Para tanto, a empresa escolherá a cidade-sede da montadora no próximo 30 de setembro.
Para conseguir atrair o negócio, o Distrito Federal precisa dispor de área para instalação do parque industrial, de uma boa política fiscal e de um pacote de incentivos. O GDF tem três locais para oferecer: dois na saída norte, um próximo a Sobradinho e outro na altura da Granja do Torto; a terceira opção fica na DF-140, perto da estação de rádio da Marinha. A área mínima para abrigar o projeto é de 300 hectares — três milhões de metros quadrados, o equivalente a 300 campos de futebol. As terras pertencem ao GDF e poderão ser repassadas à fabricante por meio do Programa de Promoção do Desenvolvimento Econômico (Pró-DF(1)).
"O êxito desse projeto vai inserir definitivamente o Distrito Federal na produção de alta tecnologia global" |
A ideia empolga tanto o governador que ele quer criar o Polo Aeronáutico de Brasília para abrigar o terminal de cargas local e a montadora. “O êxito desse projeto vai inserir definitivamente o Distrito Federal na produção de alta tecnologia global”, diz Rosso. Segundo ele, o desafio urgente é encontrar parceiros que apostem no projeto. “O mundo está atento a Brasília e só é preciso perceber as oportunidades.”
Parque
A NG produzirá, inicialmente, 75% da aeronave fora da Holanda. Apenas a cabine será feita no país europeu, que tem a tecnologia e a licença para tanto. Para montar a maior parte do avião, é necessária a produção de 36 mil itens, distribuída em um parque industrial formado por 14 fábricas. As peças são enviadas para a montadora, que fica no centro do terreno. Depois de cinco anos, a empresa holandesa passará a fabricar todo o avião no local.
Cada fábrica do complexo deverá gerar em média 700 empregos. Para o presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Antônio Rocha, a cidade tem condições de suprir a mão de obra técnica. “As universidades de Brasília formam muitos jovens capacitados. Além disso, o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem) prepara-se para começar, no Gama, um centro de formação justamente para o setor”, diz Rocha. De acordo com o presidente, a iniciativa do GDF pode dar à indústria um papel fundamental na economia local.
O valor para instalação do complexo é de 700 milhões de euros — R$ 1,6 bilhão. A NG procura um parceiro brasileiro para viabilizar 30% dos custos. Para tanto, linhas de créditos como a do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Socialv (BNDES) podem ser fundamentais para avalizar a instalação.
Uma vantagem à disposição da capital da República é o Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO). Os recursos são oferecidos pelo governo federal para gerar o desenvolvimento econômico da região, mas o fundo é subutilizado pelos empresários locais. Só em 2010 foram previstos R$ 4,1 bilhões para todos os Estados — DF, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul —, sendo R$ 789,6 milhões para o setor empresarial brasiliense. Até o fim de julho, apenas 19,75% do montante havia sido emprestado no Distrito Federal. Se os R$ 633 milhões restantes não forem usados até o fim de setembro, eles retornarão aos cofres da União.
Custos
O F100-NG tem capacidade para 122 passageiros e o F70-NG, para 85. A produção de cada aeronave na Europa gira em torno de US$ 10 milhões (R$ 17,7 milhões), com preço de venda de US$ 28 milhões (R$ 49,5 milhões). O objetivo é aproveitar a mão de obra e os benefícios brasileiros para reduzir esses custos. Para os primeiros 12 meses de funcionamento, o parque industrial deverá produzir 60 unidades, com aumento gradativo para, em cinco anos, alcançar a fabricação anual de 84 aeronaves. O faturamento inicial esperado é de R$ 3 bilhões, podendo ultrapassar rapidamente a faixa de R$ 4 bilhões.
1 - Incentivos
Por meio do programa Pró-DF, o governo pode ceder terrenos para a instalação de empreendimentos, com descontos de até 95% nos preços dos lotes fornecidos pela Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap). O Pró-DF também concede incentivos fiscais e econômicos às empresas, como a isenção do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
O número
10 mil - Volume de empregos diretos que seriam gerados pelo complexo da produção de aeronaves.
Aeronave remodelada
O F100-NG chega com a promessa de competir com a brasileira Embraer e a canadense Bombardier, empresas que dominam o mercado de aeronaves de 80 a 110 assentos. O avião substitui o antigo Fokker 100, mas promete ser superior e mais barato do que o antecessor e seus concorrentes. O projeto prevê a produção de um modelo mais leve, econômico e silencioso, além de ser menos poluente (veja o quadro). O custo de manutenção e de venda é estimado para ser 15% mais barato.
O Fokker 100 parou de ser produzido em 1996, mas ainda voa no mundo inteiro. No Brasil, é utilizado pela Ocean Air e pela Avianca. O modelo traz más lembranças aos brasileiros devido a um grande acidente aéreo em 1996, em São Paulo, com a morte de 99 passageiros. A aeronave caiu em um bairro residencial próximo ao Aeroporto de Congonhas.
A empresa remodelou o avião e previu novos itens de segurança. Para a manete do reverso, que serve para inverter a pressão da turbina e fazer a aeronave frear e que ficou famosa em outro acidente na capital paulista envolvendo um modelo Airbus, foi desenvolvido um sistema a fim de detectar qualquer tipo de problema e acionar automaticamente o equipamento.
Representantes da Next Generation estarão no fim de agosto em Brasília para dar prosseguimento às negociações e conhecer o projeto do GDF. O Distrito Federal é considerado um ponto estratégico pela empresa. Um dos maiores mercados são os Estados Unidos, que, somados aos outros países da América, representam um alto potencial de expansão. “O Centro-Oeste oferece perfeitas condições climáticas, geográficas e econômicas para a produção das aeronaves”, acredita o governador Rogério Rosso.
Fonte: Correio Brasiliense
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